NÃO COMPRAR GATO POR LEBRE
- Amir Khair
- 5 de fev. de 2018
- 2 min de leitura
Assisti no começo da Operação Lava-Jato diversos vídeos contendo depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (indicado pelo PMDB), que revelava o pagamento de propina de 3% em contratos da Petrobras ao PT, PMDB e PP. Voltei a assistir nesses dias para me assegurar de que tinha entendido corretamente sua delação.
O que chamou a atenção, além dessa propina, foi sua afirmação sobre a existência do cartel das empreiteiras, que sempre existiu em TODAS as grandes obras públicas do País, o que evidentemente envolve outros governos na esfera federal e estaduais.
Apesar de falar isso várias vezes, os que o interrogavam passaram por cima sem inquirir o ex-diretor e quase nada apareceu na mídia. Foi sinal claro que iriam circunscrever os assaltos aos cofres públicos só em cima das propinas tiradas do sobrepreço do cartel em cima da Petrobras. Mexer com governos estaduais nem pensar. A seletividade da Justiça teve início aí.
Informou, outrossim, Paulo Roberto Costa, que seu antecessor era um diretor indicado pelo PSDB, que ainda ficou no posto até maio de 2004. Os outros diretores foram substituídos em janeiro de 2003, no início do governo Lula. Falou, também, que ninguém conseguia ser diretor na Petrobras se não fosse por indicação política, que isso era do conhecimento geral e que sempre foi assim. Os que o inquiriam, também, não deram sequência a isso.
Informou o ex-diretor que o interesse dos partidos políticos era obter recursos provenientes de licitações “ganhas” por qualquer empreiteira do cartel. Estavam sempre presentes nestas operações políticos da alta cúpula do PMDB do Senado: Renan Calheiros e Romero Jucá.
Essa é uma amostra de como funciona um dos esquemas de assalto aos cofres públicos nas estatais e demais órgãos públicos pelo grande capital. Vários empresários já foram e estão presos, mas poucos políticos claramente envolvidos ainda não foram condenados e presos por se abrigarem nas asas do Congresso Nacional, sob o manto do foro privilegiado: o julgamento de parlamentar federal é prerrogativa exclusiva do Congresso. Logo não se julga nem prende nenhum salafrário, mesmo sendo pego com a mão na botija como no caso de Aécio Neves.
Fato é que, como coloquei em artigo anterior, os tais 3% de propina foram lançados no balanço da Petrobras como um desvio de R$ 6 bilhões. Ora, isso equivale a contratos que totalizam R$ 200 bilhões. O que pouco se fala é que há sobrepreço que fica com as empresas e, normalmente gira entre 20% e 30%. É daí que saem os 3% e a diferença fica com a empreiteira. Ou seja, o roubo à Petrobras pode atingir entre R$ 40 bilhões a R$ 60 bilhões. Só aos investidores americanos, que são minoria do capital social, a Petrobras acertou na Justiça americana pagar a esses acionistas cerca de R$ 10 bilhões!
A mídia colocou como heróis os procuradores de Curitiba, da Lava-Jato, por terem recuperado R$ 1,4 bilhões até agora para a Petrobras. Por aí se vê como se engana a opinião pública sobre esse mega-assalto. Está faltando devolver à Petrobras bem mais do que os R$ 10 bilhões dados aos americanos.
Bom ficar de olho e não comprar gato por lebre.




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