ESTADO HEMORRÁGICO
- Amir Khair
- 31 de mar. de 2017
- 3 min de leitura
Nesta altura do campeonato, é bom voltarmos um pouco no tempo para compreendermos melhor parte dos fatos que nos trazem à atual conjuntura política brasileira.
Todos devem estar lembrados que, poucas horas depois de a maioria dos nossos deputados federais terem aprovado medidas contra a corrupção amplamente discutidas e subscritas por mais de 2 milhões de assinaturas e apoiadas pelo Ministério Público, um vergonhoso golpe parlamentar comandado por Rodrigo Maia, presidente da Câmara, chancelou, também por maioria esmagadora, emendas e substitutivos opostos às mesmas medidas recém-aprovadas, gerando assim um "passe livre" para muitos dos 279 políticos de 24 partidos investigados pela Operação Lava Jato, por meio das delações premiadas de 77 executivos da Odebrecht.
No mesmo dia, Renan Calheiros, presidente do Senado, numa nova tentativa de golpe parlamentar, quis aprovar em regime de urgência o projeto de lei recém-recebido da Câmara, mas foi derrotado em plenário por receio da reação que isto causaria na opinião pública.
Após a devassa no PT pela operação Java Jato, as investigações começaram a focar nos caciques do PMDB (Calheiros, Romero Jucá e José Sarney, especialmente). Colaboraram neste sentido as gravações feitas por Sérgio Machado e sua delação, que também envolveu acusação de propina contra o presidente em exercício Michel Temer.
O episódio que culminou com a renúncia do então ministro da educação Marcelo Calero (envolvendo interesse particular do ex-ministro Geddel Vieira Lima) abalou o governo ao envolver diretamente Michel Temer e Eliseu Padilha, seu braço direito.
REAÇÃO
Nossa sociedade demonstra não mais suportar situações desta natureza, por isso, uma nova onda de manifestações irradiou-se pelas ruas de vários pontos do País, tendo por alvo a corrupção no governo Temer, que agora parece atrair os jovens que já vinham protestando contra o teto de gastos, a proposta de reforma do ensino médio e a corrupção.
Diante disto tudo, não é de se estranhar a adesão do povão de renda mais baixa, pouco presente nas manifestações contra e pró impeachment de Dilma. De lá para cá, a tensão social cresceu devido ao alto nível de desemprego, excesso de endividamento das famílias e corrosão salarial pela inflação.
Nesse turbulento ambiente político, além de os possíveis investidores em potencial não encontrarem a segurança necessária para arriscar seu capital, os consumidores se deparam endividados e ameaçados pelo risco de demissões empurradas pela crise financeira das empresas.
SUPER-SALÁRIOS
Diante deste contexto, torna-se um desrespeito à sociedade a prática generalizada de supersalários nos três poderes (uma afronta o Artigo 37 da Constituição). Ninguém pode estar acima da lei, especialmente juízes, procuradores e promotores que já detém em sua maioria os maiores salários no setor público e são pagos para fazer cumprir a lei.
AGONIA FISCAL
Enquanto o governo aposta numa melhora fiscal de longo prazo com o "teto" e a proposta de reforma da Previdência Social, os juros elevam a dívida pública e comandam a crise fiscal. Assim, a União se vê sufocada pela dívida impactada por elevadas taxas de juros e, os Estados, aprisionados por excesso de despesas com pessoal. Resultado: o setor público está falido.
A possível economia gerada com o teto de despesas acabará por ser superada pela perda de arrecadação devido à recessão.
Fica cada vez mais difícil equacionar as despesas de longo prazo como almeja o governo, pois, no curto prazo, faltam medidas fortes que estanquem a hemorragia fiscal. É o curto inviabilizando o longo prazo.
A cada mês os juros acrescentam R$33 bi ao déficit público. A perda de arrecadação, outros R$12 bi. Se acrescermos os R$3bi da elevação das despesas primárias, atingiremos R$48 bilhões!
Mesmo com a aprovação do "teto dos gastos" e da proposta de reforma da Previdência Social, a dívida bruta saltaria dos atuais R$4,6 tri para R$6,4 tri em 2018.
A frustração do crescimento econômico está, portanto, desgastando qualquer possibilidade de confiança nos rumos traçados pelo atual governo.




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