CONSOLO
- Amir Khair
- 6 de nov. de 2016
- 2 min de leitura
Na pós-euforia da vitória, o que resta aos nossos prefeitos eleitos senão um quadro com graves problemas fiscais, queda de receitas, inadimplência nos compromissos, alto nível de desemprego e um ambiente de tensão social crescente? Eles dependem de recursos federais e estaduais. Enquanto o governo federal encara uma dívida ascendente alavancada pela elevada taxa de juros (o que são os bilhões de reais repatriados diante da monumental despesa com juros?), os governos estaduais lutam com o excesso de despesa de pessoal e as prefeituras buscam driblar problemas que crescem na razão direta do descumprimento de promessas por elas feitas durante a campanha...
O teto dos gastos públicos acabou por não por o dedo no coração do déficit público: os juros (8,5% do PIB). Excesso de juros em prestações põe o orçamento doméstico em risco e corrói salários, além de reduzir a marcha do carro-chefe das famílias (o consumo). Isto causa uma elevada capacidade ociosa às empresas, que deixam de investir, pois não vêm sinais de retomada do consumo. Se não fecham as portas por dívidas bancárias, elas escolhem os títulos do governo, sem risco, que rendem juros e têm liquidez imediata. Em suma? Excesso de juros trava a economia, reduz a oferta e causa inflação. Porém, coerente com seu DNA conservador, o Banco Central prefere não reduzir a Selic mais rapidamente e postergar a queda da elevada despesa com juros, tão essencial para atenuar a evolução da relação dívida/PIB. Assim, sacrifica-se mais ainda áreas vitais como educação e saúde.
É verdade que requer a máxima segurança política possível a atração de grandes investidores para obras em infraestrutura nos empreendimentos de longa maturação. O governo deve saber que não lhe basta dispor de larga folga no Congresso, onde é imenso o risco de importantes lideranças virarem réus no Ministério Público e no Poder Judiciário. Tanto as redes sociais como os meios de comunicação estão minando as várias tentativas no Congresso para barrar investigações contra a corrupção e o STF sofre pressão para que decida processos envolvendo caciques do PMDB e PSDB. Essa conjuntura sócio-político-econômica não propicia clima favorável à assunção de riscos para investimentos nem para retomada de consumo. Estas escolhas do governo federal são um grave complicador da tensão social, pois, ao atingir a área social, uma contenção de despesas pode resultar em perda de arrecadação que, para ser recuperada, requer redução de juros. Esse trajeto independe do Congresso, porém, o atual governo caminha ao largo disso e, caso não consiga reverter essa conjuntura na primeira metade de 2017, pagará pelo “salve-se quem puder” instaurado no País um significativo desgaste político.
Depois de o País atravessar todo este sofrimento com o impeachment da presidente Dilma e, agora, com Michel Temer, resta-nos o consolo de não haver um Trump nessa linha sucessória.




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